MAS LIVRAI-NOS DO MAL.
AMÉM
88. — Nos pedidos precedentes, o Senhor nos ensina a implorar o
perdão dos pecados e nos mostra como escapar das tentações. Aqui
nos ensina a pedir que sejamos preservados do mal.
Este é um pedido geral. Segundo Santo Agostinho, visa as diferentes
espécies de males: pecados, doenças, aflições. Já falamos do pecado
e da tentação; resta-nos tratar das outras categorias de males: todas
as adversidades e aflições deste mundo. Deus nos livra delas de
quatro maneiras.
89. — Em primeiro lugar, Deus livra o homem das aflições,
afastando-as dele; o que faz raramente. Neste mundo, os santos são
afligidos. Todos os que quiserem viver piamente em Cristo
Jesus, padecerão perseguição, diz São Paulo. (2 Tm 3, 12).
No entanto, às vezes, Deus concede a alguns não serem afligidos.
Quando Deus sabe que uma pessoa não suporta a prova, age como
um médico que evita dar remédios violentos a um doente muito mal.
Eis, diz o Senhor, (Ap 3,8) que pus diante de ti uma porta aberta que
ninguém pode fechar.
Na pátria celeste é lei geral que ninguém seja afligido. Está no
Apocalipse: (7, 16-17) Já não terão fome nem sede, nem cairá sobre
eles o sol nem calor algum. Porque o Cordeiro, que está no meio do
trono, os guardará e os levará às fontes das águas da vida, e Deus
enxugará toda lágrima dos seus olhos.
90. — Em segundo lugar, Deus nos livra do mal, enviando-nos
consolações no tempo das aflições. Sem as consolações divinas, o
homem não pode subsistir no meio das provações. Diz-nos São Paulo:
(2 Cor 1, 8) Fomos mal tratados desmedidamente, além de nossas
forças, e acrescenta: (2 Cor 7, 6) Deus porém que consola os
humildes, consolou-nos. E canta o Salmista: (93, 19) Segundo as
muitas dores que provou meu coração, as tuas consolações
alegraram a minha alma.
91. — Em terceiro lugar, Deus cumula os aflitos de tantos benefícios,
que chegam a esquecer seus males. Depois da tempestade vem a
bonança, dizia Tobias (3, 32). Assim não devemos temer as aflições e
tribulações do mundo, que são facilmente suportadas por causa das
consolações que Deus mistura a elas e também por causa de sua
pouca duração. Diz São Paulo (2 Cor 4, 17) A ligeira tribulação do
momento presente prepara para nós um peso eterno de glória, além de toda medida. Pois é a tribulação que nos faz alcançar a vida
eterna.
92. — Em quarto lugar — e para estender a idéia do mal a todos os
males (n° 88) — Deus tira o bem de todos os males, tentações e
tribulações.
Jesus não nos faz dizer: livrai-nos da tribulação, mas: livrai-nos do
risco do mal que essas tribulações trazem.
Com efeito, as tribulações são dadas aos santos, para seu bem, para
que mereçam a coroa da glória. Por isso, ao invez de pedir para
serem liberados das tribulações, os santos fazem suas as palavras do
Apóstolo: (Rm 5, 3) Não só nos gloriamos na esperança e na glória de
Deus, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que as
tribulações produzem a paciência. E repetem a oração de Tobias: (3,
13) Bendito seja o teu nome, ó Deus de nossos pais, que no tempo
da aflição, perdoas os pecados aos que te invocam.
Assim Deus livra o homem do mal e da tribulação, transformando o
mal em bem, o que é o sinal da maior sabedoria, pois, com efeito,
pertence ao sábio ordenar o mal ao bem. Deus atinge este objetivo,
dando ao homem paciência nas tribulações. As outras virtudes se
servem dos bens, mas a paciência é a única que tira proveito dos
males. São eles que a fazem necessária e é por isso que sua
necessidade só aparece no meio dos males, isto é, nas adversidades.
Lemos nos Provérbios: (19, 11) A sabedoria do homem conhece-se
pela sua paciência, o que faz com que ordene o mal para o bem.
93. — É por isso que o Espírito Santo, pelo dom de Sabedoria, nos faz
dirigir este pedido ao Pai. Graças a este dom, alcançaremos a bem aventurança,
para a qual nos ordena a paz. A paciência, com efeito,
nos assegura a paz, na adversidade. E por isso os pacíficos são
chamados filhos de Deus, pois, são semelhantes a Deus. A eles, como a Deus, nada pode perturbar, nem a prosperidade nem a
adversidade. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados
filhos de Deus. (Mt 5, 9).
94. — Amém é a reafirmação geral de todos os sete pedidos da
Oração Dominical.

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