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terça-feira, 30 de junho de 2015

O desprezo do tempo e a hora da morte


1. Nada há mais precioso que o tempo; e nada há que seja menos estimado e mais desprezado pelos mundamos. É o que fazia São /bernardo chorar: Nihil pretiosius tempore, sed nihil vilius aestimatur. Depois ele acrescenta: Transeunt dies salutis - Passam os dias oportunos para adquirir a salvação eterna, e ninguém reflete que os dias que passam, lhe são descontados para nunca mais voltarem. Vê o jogador que gasta dias e noites no jogo. Se lhe perguntares: <Que estás fazendo?> responderá: <Estou passando o tempo.> - Vê o ocioso que se entretem horas interias nas ruas, a ver quem passa, ou as desperdiça em conversas indecentes ou inúteis. Se lhe perguntares: <Que estás fazendo?> respondeer-te-á igualmente: <Procuro passar o tempo.> Pobres cegos, que desperdiçam tantos dias, mas dias que não voltam mais!
Desdenhado tempo! Tu serás o que os mundanos desejarão mais na hora da morte. Desejarão então mais um ano, mais um mês, mais um dia, mas não o terão, e ouvirão dizer: Tempus non erit amplius (1) - <Não haverá mais tempo> . Quanto não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia, afim de melhor ajustar as contas da consicência? Ainda que não fosse senão para obter uma só hora, diz São Lourenço Justiniano, ele daria todos os seus bens: Erogaret opes, honores, delicias pro una horula. Mas essa hora não será dada.
- Apressa-te lhe dirá o sacerdote que o estiver assistindo, - apressa-te em partir deste mundo; não há mais tempo para ti: Proficiscere, anima chistiana, de hoc mundo
Ó meu Deus, dou-Vos graças por me concederdes o tempo para chorar os meus pecados e compensar pelo meu amor as ofensas que Vos fiz. Ai de mim! Que seria de minha alma, se me viessem agora anunciar a chegada de minha morte!
II. Exorta-nos o Sábio a que nos lembremos de Deus e entremos em sua grança, antes que se nos apague a luz: Memento Creatoris tui, antequam tenebrescat sol et lumen (1). Que tristeza para um viajante o ver que errou o caminho, quando já está caída a noite e não a mágoa de quem tiver vivido muitos anos no mundo sem os empregar no serviço de Deus.
A consciência recordará então aquele homem descuidado o tempo que teve e que empregou em prejuízo da sua alma: todos os convites, todas as graças, que recebeu de Deus para se santificar, e de que se não quis aproveitar. Depois verá que lhe faltam os meios de fazer qualquer bem. Exclamará gemendo: -  Commo fui insensato! Ó tempo perdido! durante os quais me podia santificar e não o fiz! Agora já não é tempo de o fazer... De que servirão, porém, estas lamentações e suspiros, quando a cena já está no fim, quando a lâmpada está próxima a apagar-se, e quando o mundo está pr´xoimo do momento terrível de que depende a eternidade?
Apressai-vos, ó meu Jesus, apressai-Vos a me perdoar. Que hei de esperar? Esperarei porventura até chegar ao cárcer eterno, onde com os outros réprobos teria de lamentar eternamente, dizendo: Finita est aestas (2) -  Findou-se o estio? passou o tempo, e nós não nos salvamos. Não, meu Senhor, não quero mais resistir a vosso amoroso convite. Quem sabe se a presente meditação não é o último aviso que me dirigis? Ó soberano /Bem, pesa-me de Vos haver ofendido, e Vos consagro todo o tempo de vida que me resta. Não Vos quero mais causar desgostos; quero Vos amar sempre. Prometo-Vos que, cada vez que disto me lembrar, farei um ato de amor, afimm de remir o tempo perdido. Dai-me a santa perseverança. Doce Coração de Maria, sede minha salvação!

(1) Ecle 12,1-2
(2) Jer 8,20

Extraído do livro de Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações Tomo II - pág 198-200

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