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terça-feira, 30 de junho de 2015

O desprezo do tempo e a hora da morte


1. Nada há mais precioso que o tempo; e nada há que seja menos estimado e mais desprezado pelos mundamos. É o que fazia São /bernardo chorar: Nihil pretiosius tempore, sed nihil vilius aestimatur. Depois ele acrescenta: Transeunt dies salutis - Passam os dias oportunos para adquirir a salvação eterna, e ninguém reflete que os dias que passam, lhe são descontados para nunca mais voltarem. Vê o jogador que gasta dias e noites no jogo. Se lhe perguntares: <Que estás fazendo?> responderá: <Estou passando o tempo.> - Vê o ocioso que se entretem horas interias nas ruas, a ver quem passa, ou as desperdiça em conversas indecentes ou inúteis. Se lhe perguntares: <Que estás fazendo?> respondeer-te-á igualmente: <Procuro passar o tempo.> Pobres cegos, que desperdiçam tantos dias, mas dias que não voltam mais!
Desdenhado tempo! Tu serás o que os mundanos desejarão mais na hora da morte. Desejarão então mais um ano, mais um mês, mais um dia, mas não o terão, e ouvirão dizer: Tempus non erit amplius (1) - <Não haverá mais tempo> . Quanto não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia, afim de melhor ajustar as contas da consicência? Ainda que não fosse senão para obter uma só hora, diz São Lourenço Justiniano, ele daria todos os seus bens: Erogaret opes, honores, delicias pro una horula. Mas essa hora não será dada.
- Apressa-te lhe dirá o sacerdote que o estiver assistindo, - apressa-te em partir deste mundo; não há mais tempo para ti: Proficiscere, anima chistiana, de hoc mundo
Ó meu Deus, dou-Vos graças por me concederdes o tempo para chorar os meus pecados e compensar pelo meu amor as ofensas que Vos fiz. Ai de mim! Que seria de minha alma, se me viessem agora anunciar a chegada de minha morte!
II. Exorta-nos o Sábio a que nos lembremos de Deus e entremos em sua grança, antes que se nos apague a luz: Memento Creatoris tui, antequam tenebrescat sol et lumen (1). Que tristeza para um viajante o ver que errou o caminho, quando já está caída a noite e não a mágoa de quem tiver vivido muitos anos no mundo sem os empregar no serviço de Deus.
A consciência recordará então aquele homem descuidado o tempo que teve e que empregou em prejuízo da sua alma: todos os convites, todas as graças, que recebeu de Deus para se santificar, e de que se não quis aproveitar. Depois verá que lhe faltam os meios de fazer qualquer bem. Exclamará gemendo: -  Commo fui insensato! Ó tempo perdido! durante os quais me podia santificar e não o fiz! Agora já não é tempo de o fazer... De que servirão, porém, estas lamentações e suspiros, quando a cena já está no fim, quando a lâmpada está próxima a apagar-se, e quando o mundo está pr´xoimo do momento terrível de que depende a eternidade?
Apressai-vos, ó meu Jesus, apressai-Vos a me perdoar. Que hei de esperar? Esperarei porventura até chegar ao cárcer eterno, onde com os outros réprobos teria de lamentar eternamente, dizendo: Finita est aestas (2) -  Findou-se o estio? passou o tempo, e nós não nos salvamos. Não, meu Senhor, não quero mais resistir a vosso amoroso convite. Quem sabe se a presente meditação não é o último aviso que me dirigis? Ó soberano /Bem, pesa-me de Vos haver ofendido, e Vos consagro todo o tempo de vida que me resta. Não Vos quero mais causar desgostos; quero Vos amar sempre. Prometo-Vos que, cada vez que disto me lembrar, farei um ato de amor, afimm de remir o tempo perdido. Dai-me a santa perseverança. Doce Coração de Maria, sede minha salvação!

(1) Ecle 12,1-2
(2) Jer 8,20

Extraído do livro de Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações Tomo II - pág 198-200

Como se deve receber a Eucaristia


segunda-feira, 22 de junho de 2015

A ideologia do Gênero e a descontrução da família

Por iniciativa dos padres Antônio Baldan Casal e Ricardo de Barros Marques, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, ocorreu na cidade de Santos, no último dia 05/12/2014, às 20h00 a Palestra "A ideologia de gênero e a desconstrução da família



sábado, 20 de junho de 2015

12º Domingo do Tempo Comum - Os três inimigos da alma

No Evangelho deste Domingo, a barca dos discípulos é agitada pelo vento forte e pelo mar bravio, mas, sobretudo, por sua falta de fé. Descubra, neste Testemunho de Fé, quais são os três inimigos da Igreja e das almas, e como fazer para acalmar as tempestades desta vida e alcançar o porto da salvação.
"E nós marcados com o sinal da cruz do Senhor no dispusemos a deixar o mundo, entramos na barca com Jesus, e nos esforçamos para atravessar o mar; mas enquanto navegamos em meio ao rugido do mar, Jesus dorme, quando em meio aos esforços das virtudes, a chama do amor arrefece seja pelo ataque dos espíritos maus, seja dos homens depravados, seja de nossos próprios pensamentos. Mas se, no meio destas tempestades, nós nos apressarmos a acordá-lo; ele logo acalmará a tempestade, restaurará a tranquilidade e nos concederá o porto da salvação."

(São Beda, o Venerável, apud Santo Tomás de Aquino, Catena Aurea in Marcum, IV, 5.)

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Da pureza da intenção


Omne, quodcumque facitis in verbo aut in opere, omnia in nomine Domini Iesu Christi, gratias agentes Deo et Patri per ipsum — “Tudo quanto fizerdes por palavra ou por obra, tudo seja em nome do Senhor Jesus Cristo, rendendo graças por Ele a Deus Pai” (Col. 3, 17).
Sumário. Nunca deixemos de dirigir de manhã a Deus todas as ações do dia; e procuremos renovar a boa intenção ao menos no começo das ações principais. É certo que as ações, boas em si mesmas, porém feitas para granjear louvores humanos, para satisfazer ao amor próprio ou por qualquer motivo humano, são como que postas num saco furado. Ao contrário, a pureza de intenção faz preciosas as ações mais insignificantes, porquanto toda obra feita para Deus é verdadeiro ato de amor divino.
I. A pureza de intenção consiste em fazer todas as ações com o único intuito de agradar a Deus. Jesus Cristo disse: “Se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso. Mas, se o teu olho for mau, todo o teu corpo estará em trevas.” Segundo a explicação de Santo Agostinho, o olho simples significa a intenção pura de dar gosto a Deus: o olho tenebroso significa a intenção má, quando se faz uma coisa por vaidade, ou para própria satisfação. Ora, segundo a intenção for boa ou má, a obra será também aos olhos de Deus boa ou má. — Poderá haver obra mais sublime do que o dar a vida pela fé? Todavia diz São Paulo que aquele que morre com outro intuito que não a vontade de Deus, nenhum proveito tem de seu martírio. Ora, se não aproveita nada o martírio, não sendo sofrido por amor de Deus, que utilidade terão todas as pregações, todos os livros e todos os trabalhos dos operários sagrados e todas as austeridades dos penitentes, quando feitos para granjear louvores humanos ou para contentar o amor próprio?
Disse o profeta Ageu, que as obras, embora santas por natureza, mas não feitas para Deus, são postas in sacculum pertusum (1), em um saco roto, quer dizer, que se perdem todas e nada resta, Ao contrário, toda a ação, por insignificante que seja, mas feita para o agrado de Deus, tem muito mais valor do que muitas obras grandiosas feitas sem reta intenção. — Lemos em São Marcos que a viúva pobre não deitou no cofre das oferendas do templo senão duas pequenas moedas, mas o Salvador dela disse: Vidua haec pauper plus omnibus misit (2) — “Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros”. Explica São Cypriano que ela deu mais do que os outros, porque deu as duas pequenas moedas com a intenção pura de agradar a Deus.
Para conhecer se uma ação foi feita com intenção reta, um dos melhores sinais é o não perturbar-se quando não se alcança o intento desejado. Outro sinal é se depois da obra feita se fica contente e tranqüilo, posto que outros murmurem ou a desaprovem. — Pelo mais, se acontecer que o que fez bem é louvado, não deve inquietar-se pelo medo da vanglória. Se tal pensamento surgisse na mente, deveria desprezá-lo e dizer com São Bernardo: Nec propter te coepi, nec propter te desinam: “Não é para ti que comecei, nem para ti a quero interromper”.
II. A intenção de adquirirmos uma glória mais alta no céu é boa; mas a mais perfeita é a de agradar ao Senhor. É esta intenção que fere o Coração de Deus de amor para conosco, assim como disse a Esposa sagrada: Vulnerasti cor meum in uno oculorum tuorum (3) —“Feriste meu Coração com um dos teus olhos”. Pelo que o Apóstolo deu também a seus discípulos este conselho: Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, tudo fazei para glória de Deus (4). — Dizia a Venerável Beatriz da Encarnação, primeira filha de Santa Teresa: “Nenhum valor terrestre pode igualar o de qualquer obra feita para Deus, posto que mais insignificante.” Com razão, pois que todas as obras feitas para Deus são outros tantos atos de amor divino. A pureza de intenção faz preciosas as ações mais desprezíveis; como sejam: o comer, o lavrar a terra, mesmo o divertir-se, com tanto que sejam feitas por obediência e para agradar a Deus.
Devemos, portanto, desde pela manhã dirigir a Deus todas as ações do dia. E será de grande vantagem renovar essa intenção no começo de todas as ações, ao menos das mais importantes, por exemplo, antes da oração, da comunhão, da leitura espiritual; paremos um instante no começo destas ações, como fazia certo solitário, que antes de principiar qualquer ação parava um pouco e levantava os olhos ao céu. Perguntado por que razão assim fazia, respondeu: Procuro acertar o tiro.
Ó meu Jesus, quando começarei a Vos amar com todas as veras? Ai de mim! Se entre as minhas ações, mesmo boas, procuro uma feita unicamente para Vos agradar, não a posso achar. Tende piedade de mim! não permitais que eu Vos sirva tão mal até a minha morte. Ajudai-me, afim de que o resto de minha vida seja empregado unicamente no vosso serviço e no vosso amor. Fazei com que eu suporte tudo para Vos dar gosto, e faça tudo somente para Vos agradar; eu vo-lo peço pelos merecimentos da vossa paixão. — Ó minha grande advogada, Maria, obtende-me esta graça pela vossa intercessão.
1. Agg. 1, 6.
2. Marc. 12, 43.
3. Cant. 4, 9.
4. 1 Cor. 10, 31.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II – Santo Afonso
fonte: http://osegredodorosario.blogspot.com.br/

terça-feira, 16 de junho de 2015

AVISOS PARA O EXERCÍCIO DA MEDITAÇÃO

São Pedro de Alcântara

1.

Introdução




Tudo o que até aqui dissemos serviu para oferecer matéria de consideração para os que aprendem a meditar, o que é uma das principais partes deste tema. De fato, poucas pessoas possuem suficiente material para reflexão na meditação e, deste modo, por falta dele, não são poucos os que não conseguem dar-se a esta prática.

Agora, porém, resta declarar abreviadamente a maneira e a forma pelas quais pode-se meditar. E. mesmo que nesta matéria o principal Mestre seja o Espírito Santo, todavia a experiência nos mostrou que são necessários alguns avisos, porque o caminho para ir a Deus é árduo e necessita de guia, sem o que muitos andam muito tempo perdidos e desencaminhados.


2.

Primeiro Aviso




Seja, pois, este o primeiro aviso: que quando nos pomos a considerar algumas das coisas que já mencionamos como matéria de meditação em seus devidos tempos e exercícios, não devemos estar tão presos a estas matérias que consideremos como serviço mal feito deixarmos uma para tomarmos outra, quando nisto encontrarmos maior gosto ou maior proveito, porque, como a finalidade de tudo é a devoção, o que mais servir para este fim, será isto que se deve considerar como sendo o melhor. Porém isto não se deve fazer por motivos levianos, mas com vantagem conhecida. Sendo assim, se em alguma passagem de sua oração sentirmos maior gosto ou devoção do que em outro, detenhamo-nos nele por todo o espaço de tempo em que dure este afeto, mesmo que todo o tempo do recolhimento se gaste nisto. Porque, como o fim de tudo isto é a devoção, conforme já o explicamos, seria um erro buscar em outra parte, com esperança duvidosa, o que já temos como certo em nossas mãos.


3.

Segundo Aviso




Seja o segundo aviso que trabalhe o homem para desculpar neste exercício a demasiada especulação do entendimento, e procure deixar este negócio mais com afetos e sentimentos da vontade que com discursos e especulações do entendimento.

Porque sem dúvida não acertam este caminho aqueles que de tal maneira se põe na oração a meditar os Mistérios Divinos como se os estivessem estudando para pregar, o que seria mais derramar o espírito do que recolhê-lo e seria mais andar fora de si do que dentro de si. De onde nasce que, acabada a sua oração, ficam secos e sem suco de devoção, e tão fáceis e prontos para qualquer leviandade como o estavam antes. Porque a verdade é que tais pessoas de fato não oraram, mas falaram e estudaram, o que é coisa bem diversa da oração. Estes tais deveriam considerar que no exercício da oração mais nos aproximamos para escutar do que para falar. Para acertar, portanto, neste negócio, aproxime-se o homem com o coração de uma velhinha ignorante e humilde, e mais com a vontade disposta e aparelhada para sentir e afeiçoar-se às coisas de Deus do que com o entendimento esperto e atento para esquadrinhá-las, pois isto é próprio dos que estudam para saber, e não dos que oram e pensam em Deus para chorar.


4.

Terceiro Aviso




O aviso anterior nos ensina como devemos sossegar o entendimento e entregar todo este negócio à vontade; mas o presente põe também sua taxa e medida à própria vontade, para que não seja excessiva nem veemente em seu exercício, para o qual deve-se saber que a devoção que pretendemos alcanças não é coisa que se há de alcançar à força de braços, como alguns pensam, os quais, com demasiado afinco e tristezas forçadas e como que por encantamentos procuram alcançar lágrimas e compaixão quando pensam na Paixão do Salvador, porque isto costuma mais secar o coração e torná-lo mais inábil para a visitação do Senhor, conforme ensina Cassiano. E ademais estas coisas costumam causar dano à saúde corporal, e às vezes deixam a alma tão atemorizada com o sensabor que ali alcançou, que teme retomar outra vez ao exercício como a algo que experimentou ter-lhe dado muita pena. Contente-se, pois, o homem com fazer de boa vontade o que é de sua parte, que é encontrar-se presente ao que o Senhor padeceu, admirando com olhar simples e sossegado e com um coração terno e compassivo e aparelhado para qualquer sentimento que o Senhor lhe quiser conceder pelo que Ele padeceu, mais disposto para receber o efeito que sua misericórdia lhe conceder do que para expressá-lo à força de braços. E, feito isso, não se aflija pelo restante, quando não lhe for dado.


5.

Quarto Aviso




De tudo quanto foi dito podemos concluir qual é o modo da atenção que devemos ter na oração, porque aqui principalmente convém ter o coração não caído nem frouxo, mas vivo, atento e erguido para o alto. Mas assim como é necessário estar aqui com esta atenção regrada e moderada, para que não seja danosa à saúde nem impeça a devoção, porque há alguns que fatigam a cabeça com a demasiada força que empregam para estarem atentos ao que pensam, conforme já dissemos, assim também há outros que, para fugirem deste inconveniente, estão ali muito frouxos e remissos e muito fáceis de serem levados por todos os ventos. Para fugir destes extremos convém conduzir um meio termo que nem com a demasiada atenção fatiguemos a cabeça, nem com o muito descuido e frouxidão fiquemos vagando com o pensamento por onde ele bem entenda. De modo que, assim como costumamos dizer ao homem que caminha sobre uma besta maliciosa que mantenha as rédeas firmes, isto é, nem muito apertada nem muito frouxa, para que nem volte para trás, nem caminhe com perigo, assim devemos procurar que nossa atenção siga com moderação e não forçada, com cuidado mas não com fadiga e aflição.

Mas particularmente convém avisar que no princípio da meditação não fatiguemos a atenção com demasiada atenção, porque quando isto se faz, mais adiante costumam faltar as forças, como faltam ao caminhante quando no princípio da jornada se entrega a uma demasiada pressa para caminhar.


6.

Quinto Aviso




Mas entre todos estes avisos o principal é que não desanime aquele que ora, nem desista de seu exercício quando não sente imediatamente aquela suavidade da devoção que ele deseja. É necessário que com longanimidade e perseverança esperar a vinda do Senhor, porque à glória de Sua Majestade e à baixeza de nossa condição e à grandeza do negócio que tratamos pertence que estejamos muitas vezes esperando e aguardando às portas de seu palácio sagrado.

Pois quando desta maneira tenhas aguardado um pouco de tempo, se o Senhor vier, dá-lhe graças por sua vinda e, se te parecer que não vem, humilha-te diante dEle, e conhece que não mereces o que não te deram, e contenta-te com ter feito ali o sacrifício de ti mesmo e negado a tua própria vontade e crucificado o teu apetite e lutado com o demônio e contigo mesmo, e feito pelo menos o que era de tua parte. E se não adoraste o Senhor com a adoração sensível que desejavas, basta que o tenhas adorado em espírito e em verdade, como Ele quer ser adorado (Jo. 4, 23). E creia-me, com certeza, que este é o caso mais perigoso desta navegação e o lugar onde se provam os verdadeiros devotos, e que se dele te saires bem, em tudo o demais seguirás prosperamente.

Finalmente, se mesmo assim te perecesse que fosse tempo perdido perseverar na oração e fatigar a cabeça sem proveito, neste caso não teria por inconveniente que, depois de ter feito o que está em ti, tomasses algum livro devoto e trocasses então a oração pela lição, contanto que a leitura não fosse corrida nem apressada mas pausada e com muito sentimento quanto ao que estivesses lendo, misturando muitas vezes em seus lugares a oração com a leitura, o qual é coisa muito proveitosa e muito fácil de fazer para todo gênero de pessoas, mesmo que sejam muito rudes e principalmente neste caminho.


7.

Sexto Aviso




Não é documento diverso do anterior, nem menos necessário avisar que o servo de Deus não se contente com qualquer gostozinho que encontre em sua oração (como fazem alguns que derramando uma lagrimazinha ou sentindo alguma ternura de coração, pensam que já cumpriram com o seu exercício). Isto não basta para o que aqui pretendemos. Porque assim como um pequeno filete de água não basta para que a terra frutifique, que não faz mais do que tirar a poeira e molhar a terra por fora, mas é necessária tanta água que desça até o íntimo da terra e a deixe encharcada de água para que possa frutificar, assim também aqui é necessária a abundância deste rio e desta água celestial para que possa dar fruto de boas obras. É por isto que com muita razão se aconselha que tomemos para este santo exercício o maior espaço de tempo que pudermos. E melhor seria um tempo longo do que dois tempos curtos, porque se o espaço é breve, todo ele será gasto em sossegar a imaginação e aquietar o coração, e depois de já quieto nos levantaremos do exercício quando o teríamos de começar.

E descendo a maiores detalhes no que diz respeito a delimitar este tempo, parece-me que tudo o que for menos de uma hora e meia ou duas horas é um tempo muito curto para a oração, porque muitas vezes se passa mais do que meia hora em moderar o caminho e acalmar a imaginação e todo o restante do tempo é necessário para gozar do fruto da oração. É verdade que quando este exercício é feito depois de alguns outros santos exercícios, como depois do ofício das matinas ou depois de ter assistido ou celebrado missa ou depois de alguma leitura devota ou oração vocal, o coração se encontra mais disposto para este negócio e, assim como ocorre com a lenha seca, mais rapidamente se acende este fogo celestial. Também o tempo da madrugada costuma ser mais curto porque é o mais aparelhado que existe de todos quantos há para este ofício. Mas o que for pobre de tempo por causa de suas muitas ocupações, não deixe de oferecer seu quinhãozinho com a pobre viúva do Templo (Lc. 21, 2), porque se isto não ocorre por sua negligência, Aquele que provê a todas as suas criaturas conforme a sua necessidade e natureza, prove-lo-á também segundo a sua.


8.

Sétimo Aviso




Conforme a este documento se dá outro semelhante a ele, e é que quando a alma for visitada na oração, ou fora dela, com alguma visita particular do Senhor, que não a deixe passar em vão, mas que se aproveite daquela ocasião que se lhe oferece, porque é certo que com este vento navegarão homem mais em uma hora que sem Ele durante muitos dias. Assim se diz que o fazia São Francisco, de quem escreve São Boaventura em sua vida que era tão especial o cuidado que tinha nisto que se ao andar pelo caminho nosso Senhor o visitava com algum favor especial, fazia ir adiante todos os companheiros e permanecia quieto até acabar de ruminar e digerir aquele bocado que lhe vinha do céu. Os que assim não o fazem costumam comumente ser castigados com esta pena, a de que não encontram a Deus quando o buscarem, porque quando Ele os buscava não os encontrou.


9.

Oitavo Aviso




O último e mais principal aviso seja que procuremos neste santo exercício juntar em uma só coisa a meditação com a contemplação, fazendo da primeira a escada para subir até a segunda, para o que deve-se saber que o ofício da meditação consiste em considerar com estudo e atenção as coisas divinas discorrendo de umas para as outras para mover nosso coração a algum efeito e sentimento das mesmas, que é como quem fere uma pedra para arrancar dela alguma centelha. Mas a contemplação consiste em já ter arrancado esta centelha, quero dizer, já ter encontrado este efeito e sentimento que se buscava, e estar em repouso e silêncio em seu gozo, não com muitos discursos e especulações do entendimento, e sim com uma simples vista da verdade, por causa do que diz um santo doutor que a meditação discursa com trabalho e com fruto, mas a contemplação o faz sem trabalho e com fruto; a primeira busca, enquanto que a segunda encontra; a primeira rumina a comida, enquanto que a segunda a degusta; a primeira discorre e tece considerações, enquanto que a segunda se contenta com uma simples vista das coisas, porque já possui o amor e o gosto das mesmas; finalmente, a primeiro é como um meio, enquanto que a segundo é como um fim; a primeira é como caminho e movimento, enquanto que a segunda é como o término deste caminho e movimento.

Daqui se conclui uma coisa muito comum, que é ensinada por todos os mestres da vida espiritual, ainda que pouco entendida por parte dos que a lêem, a saber, que assim como ao se alcançar um fim cessam os meios, assim como chegando ao porto cessa a navegação, assim também quando o homem, mediante o trabalho da meditação, chegar ao repouso e ao gosto da contemplação, deve então cessar daquela piedosa e trabalhosa investigação. E contente com uma simples vista e memória de Deus, como se o tivesse presente, tomar posse daquele afeto que se lhe é dado, seja ora de amor, ora de admiração ou de alegria ou coisa semelhante. A razão pela qual isto se aconselha está em que, como o fim de todo este negócio consiste mais no amor e nos afetos da vontade do que na especulação do entendimento, quando a vontade já está presa e tomada deste afeto, devemos dispensar todos os discursos e especulações do entendimento, na medida em que nos seja possível, para que nossa alma com todas as suas forças se empregue nisto sem derramar-se pelos atos de outra potência. E por isso aconselha um doutor que assim que o homem sentir-se inflamado do amor de Deus, deve logo deixar todos estes discursos e pensamentos, por mais altos que possam parecer, não porque sejam maus, mas porque neste caso se tornam impedimentos de outro bem maior, o que não é outra coisa mais do que cessar o movimento quando se chega ao seu término e deixar a meditação por amor da contemplação. Pode-se assinalar que isto pode ser feito no fim de todo o exercício, depois de se pedir o amor de Deus, de que antes já havíamos tratado, pelos seguintes dois motivos. Primeiro, porque pressupõe-se que neste momento o trabalho já feito no exercício terá dado à luz a algum efeito e sentimento de Deus, e, como diz o Sábio, mais vale o fim da oração do que o seu princípio (Eccles. 7,7). Segundo, porque depois do trabalho da meditação e da oração é razoável que o homem dê um pouco de folga ao entendimento e o deixe descansar nos braços da contemplação. Neste tempo, portanto, abandone o homem todas as imaginações que se lhe oferecerem, cale o entendimento, aquiete a memória e fixe-a em Nosso Senhor, considerando que está diante de sua presença e não especulando em particularidades das coisas divinas. Contente-se com o conhecimento que ele possui de Deus pela fé e aplique a sua vontade e amor, pois somente este o abraça e nele está o fruto de toda a meditação, pois o entendimento quase nada alcança do que se pode conhecer de Deus ao passo que a vontade pode amá-Lo muito. Encerre-se dentro de si mesmo no centro de sua alma onde está a imagem de Deus, e ali esteja atento a Ele, como quem escuta ao que fala a partir de alguma elevada torrem ou como quem o tivesse dentro de seu coração, e como se em toda a criação não houvesse mais nada senão somente ela ou somente ele. E mesmo de si mesma e do que faz deveria esquecer-se, porque, como dizia um daqueles Padres, a perfeita oração é aquela onde o que está orando não se recorda que está orando. E não somente no fim do exercício, como também no meio e em qualquer outra parte em que nos tomar este sonho espiritual, quando o entendimento está como que adormecido da vontade, devemos fazer esta pausa, gozar deste benefício e retornar ao nosso trabalho ao acabar de digerir e degustar aquele bocado. É assim que faz o jardineiro quando rega a sua terra a qual, depois de tê-la enchido de água, suspendo o jorro da corrente e deixa empapar e difundir-se pelas entranhas da terra seca o que esta recebeu e, uma vez feito isto, volta a soltar o jorro da fonte, para que receba mais e mais e fique melhor regada. Mas o que então a alma sente, o que goza da luz, da fartura, da caridade e da paz que recebe, não se pode explicar com palavras, pois aqui está a paz que excede todo o sentido e a felicidade que nesta vida se pode alcançar.

Há alguns tão tomados pelo amor de Deus que tão logo tenham começado a pensar nEle a memória de seu doce nome lhes derrete as entranhas. Estes têm tão pouca necessidade de discursos e considerações para amá-Lo como a mãe ou a esposa para regalar-se com a memória de seu filho ou esposo quando lhe falam dele. Há outros também que não somente no exercício da oração, como também fora dele, andam tão abosortos e tão empapados de Deus, que de todas as coisas e de si mesmos se esquecem por causa dEle pois, se isto o pode muitas vezes o amor furioso de um perdido, quanto mais não o poderá o amor daquela infinita beleza, se não é menos poderosa a graça do que a natureza e do que a culpa? Pois quando a alma o sentir, em qualquer parte da oração em que o sinta, de nenhuma maneira o deve menosprezar, mesmo que todo o tempo do exercício se gastar nisso, sem rezar ou meditar nas outras coisas que lhe estavam determinadas, a não ser que estas lhes fossem obrigatórias, porque assim como diz Santo Agostinho que deve-se deixar a oração vocal quando esta em alguma circunstância fosse impedimento da devoção, assim também deve-se deixar a meditação quando fosse impedimento da contemplação.

De onde que também deve-se muito notar que assim como nos convém deixar a meditação pelo afeto para subir do menos ao mais, assim também, pelo contrário, às vezes convirá deixar o afeto pela meditação, quando o afeto fosse tão veemente que se temesse perigo para a saúde perseverando nela, como muitas vezes acontece aos que, sem este aviso, se entregam a estes exercícios e os tomam sem discrição, atraídos pela força da divina suavidade. E em um caso como este, diz um doutor, é bom remédio entregar-se a algum afeto de compaixão, meditando um pouco na Paixão de Cristo, ou nos pecados e nas misérias do mundo, para aliviar e desafogar o coração.

A ação silenciosa do coração.

(fratresinunum.com) 

“É absolutamente apropriado que, durante o ato penitencial, o canto do Glória, as orações e Oração Eucarística, todos – o sacerdote e os fiéis –  voltem-se juntos à direção “ad orientem”, expressando a sua vontade de participar da obra de adoração e redenção realizada por Cristo”.
Por Cardeal Robert Sarah – L’Osservatore Romano, 12 de junho de 2015 | Tradução: Vitor Picanço – Cinquenta anos após a sua promulgação pelo Papa Paulo VI, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II será lida? “Sacrosanctum Concilium” não é, de fato, um simples “livro de receitas” da reforma, mas uma verdadeira “Carta Magna” de toda a ação litúrgica.
Cardeal Sarah
Cardeal Sarah
Com ela, o concílio ecumênico nos dá uma lição magisterial. Na verdade, longe de estar contente com uma abordagem multidisciplinar e exterior, o concílio quer fazer-nos refletir sobre o que a liturgia é em sua essência. A prática da Igreja sempre vem do que Ela recebe e contempla no Apocalipse. O cuidado pastoral não pode ser desligado da doutrina.
Na Igreja, “a ação é ordenada à contemplação” (cfr. N. 2). A Constituição do concílio convida-nos a redescobrir a origem trinitária da ação litúrgica. Com efeito, o concílio estabelece a continuidade entre a missão do Cristo Redentor e a missão litúrgica da Igreja. “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos” para que “mediante o sacrifício e os sacramentos, à volta dos quais gira toda a vida litúrgica” eles realizem “a obra da salvação”. (N.6).
Operar a liturgia é, portanto, nada mais do que a operação da obra de Cristo. A liturgia em sua essência é “actio Christi”. [É] a obra de Cristo, o Senhor, da “redenção dos homens e da glorificação perfeita de Deus.” (N.5) É Ele quem é o eminente Sacerdote, o verdadeiro sujeito, o verdadeiro protagonista na liturgia (n.7 ). Se este princípio essencial não é aceito, existe o risco de transformar a liturgia em uma obra humana, uma auto-celebração da comunidade.
Em contrapartida, o verdadeiro trabalho da Igreja consiste em inserir-se na ação de Cristo, em unir-se a essa obra que Ele recebeu como uma missão do Pai. Assim, “nos deu a plenitude do culto divino”, pois “sua humanidade foi, na unidade da pessoa do Verbo, o instrumento da nossa salvação” (n.5). A Igreja, Corpo de Cristo, deve, portanto, tornar-se por sua vez um instrumento nas mãos do Verbo.
Este é o sentido último do conceito-chave da Constituição Conciliar: “participatio actuosa”. Tal participação da Igreja consiste em tornar-se o instrumento de Cristo – O Sacerdote, com o objetivo de partilhar de Sua missão trinitária. A Igreja participa ativamente da ação litúrgica de Cristo, na medida em que Ela é seu instrumento. Neste sentido, falar de “uma comunidade celebrante” “não é desprovido de ambiguidade e exige prudência. (Instrução “Redemptoris sacramentum”, n. 42). A “Participatio actuosa” não deve, então, ser concebida como a necessidade de fazer alguma coisa. Sobre este ponto, a doutrina do concílio tem sido frequentemente deformada. Antes, trata-se de permitir que Cristo nos tome e nos ligue ao Seu Sacrifício.
A “Participatio” litúrgica deve, portanto, ser concebida como uma graça de Cristo, que “associa sempre a si a Igreja.” (SC n. 7) Ele é quem tem a iniciativa e a primazia. A Igreja “invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai” (n.7).
O sacerdote deve tornar-se, assim, este instrumento que permite que Cristo transpareça. Assim como nosso Papa Francisco nos lembrou, recentemente, que o celebrante não é apresentador de um espetáculo; ele não deve visar a popularidade, colocando-se diante dos fiéis como seu principal interlocutor. Entrar no espírito do concílio significa, pelo contrário, fazer-se desaparecer – abandonando o centro do palco.
Ao contrário do que às vezes tem sido sustentado, e em conformidade com a Constituição conciliar, é absolutamente apropriado que, durante o ato penitencial, o canto do Glória, as orações e Oração Eucarística, todos – o sacerdote e os fiéis — voltem-se juntos à direção “ad orientem”, expressando a sua vontade de participar da obra de adoração e redenção realizada por Cristo. Esta maneira de agir poderia ser convenientemente realizada nas catedrais onde a vida litúrgica deve ser exemplar (n. 4).
Para ser muito claro, há outras partes da Missa, onde o padre, agindo “in persona Christi Capitis” entra em diálogo com a congregação. Mas este cara-a-cara não tem outro objetivo senão levá-los a um tête-à-tête com Deus, que, através da graça do Espírito Santo, irá torná-lo ‘coração-à-coração”. O concílio oferece outros meios para favorecer a participação: “as aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as ações, gestos e atitudes corporais” (n. 30).
Uma leitura excessivamente rápida e superficial deduziu que os fiéis tinham de ser mantidos constantemente ocupados. A mentalidade ocidental contemporânea, moldada pela tecnologia e enfeitiçada pelos meios de comunicação de massa, queria tornar a liturgia uma obra de pedagogia eficaz e proveitosa. Neste espírito, houve a tentativa de fazer dela um espaço de socialização. Os atores litúrgicos, animados por motivos pastorais, tentam, às vezes, fazer dela uma obra didática, através da introdução de elementos seculares e espetaculares. Não vemos, por acaso, um crescimento de testemunhos, performances e palmas? Eles acreditam que a participação é favorecida desta forma, quando, na realidade, a liturgia está a ser reduzida a uma atividade humana.
“O silêncio não é uma virtude, nem o ruído um pecado, é verdade”, diz Thomas Merton, “mas o tumulto contínuo, confusão e barulho na sociedade moderna ou em certas liturgias eucarísticas africanas são uma expressão da atmosfera de seus pecados mais graves e de sua impiedade e desespero. Um mundo de propaganda e intermináveis argumentações, de inventivas, críticas ou mera tagarelice, é um mundo em que a vida não vale a pena viver. A Missa torna-se um barulho confuso, as orações um ruído exterior ou interior“ (Thomas Merton, “The Sign of Jonah” edição francesa, Albin Michel, Paris, 1955 – 322 p.).
Corremos o risco real de não deixar espaço para Deus em nossas celebrações. Corremos o risco da tentação dos hebreus no deserto. Eles tentaram criar um culto de acordo com sua própria estatura e medida, [mas] não nos esqueçamos que acabaram se prostrando diante do ídolo do Bezerro de Ouro.
É hora de começar a ouvir o concílio. A liturgia é “principalmente culto da majestade divina” (n.33). Isto tem valor pedagógico, na medida em que é totalmente ordenada à glorificação de Deus e ao culto divino. A Liturgia verdadeiramente nos coloca na presença da transcendência divina. A verdadeira participação significa renovar em nós mesmos aquela “maravilha” que São João Paulo II tinha em grande consideração (Ecclesia de Eucharistia n. 6). Esta santa admiração, esta alegre reverência, requer o nosso silêncio diante da Majestade Divina. Frequentemente, esquecemos que o santo silêncio é um dos meios indicados pelo concílio para favorecer a participação.
Se a liturgia é a obra de Cristo, é necessário que o celebrante introduza seus próprios comentários? Devemos lembrar que, quando o Missal autoriza uma intervenção, este não deve se transformar em um discurso secular e humano, um comentário mais ou menos sutil em algo de interesse tópico, nem uma saudação mundana para as pessoas presentes, mas uma breve exortação, como introdução ao Mistério (Apresentação Geral do Missal Romano, n.50). Em relação à homilia, é em si um ato litúrgico, que tem as suas próprias regras.
A “Participatio actuosa” na obra de Cristo pressupõe que deixemos o mundo secular, de modo a entrar na “ação sagrada por excelência” (Sacrosanctum concilium, n.7). De fato, “nós reivindicamos, com uma certa arrogância – participar do divino” (Robert Sarah, “Dieu ou rien”, p 178.).
Em tal sentido, é deplorável que o altar, em nossas igrejas, não seja um lugar estritamente reservada para o Culto Divino, que as roupas seculares sejam usadas nele e que o espaço sagrado não seja claramente definido pela arquitetura. Uma vez que, como ensina o concílio, Cristo está presente na sua Palavra, quando esta for proclamada, é igualmente prejudicial que os leitores não usem roupas adequadas, indicando que eles não estão pronunciando palavras humanas, mas do Verbo Divino.
A liturgia é fundamentalmente mística e contemplativa, e, consequentemente, para além da nossa ação humana; ainda, a “participatio” é uma graça de Deus. Portanto, ela pressupõe da nossa parte uma abertura ao mistério celebrado. Assim, a Constituição recomenda plena compreensão dos ritos (n.34) e ao mesmo tempo estabelece que “os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da missa que lhes competem “(n.54).
Na realidade, a compreensão dos ritos não é um ato de razão, deixada à sua própria capacidade, que deve aceitar tudo, compreender tudo, dominar tudo. A compreensão dos ritos sagrados é a do “sensus fidei”, que exercita a fé viva através de símbolos e que conhece através da “harmonia”, mais do que pelo conceito. Esse entendimento pressupõe que nos aproximamos do Mistério Divino com humildade.
Mas será que vamos ter a coragem de seguir o concílio até este ponto? Tal leitura, iluminada pela fé, é, no entanto, fundamental para a evangelização. Na verdade, “mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos (6), até que haja um só rebanho e um só pastor ” (n.2). Ela [a leitura da SC] deve deixar de ser um lugar de desobediência às prescrições da Igreja.
Mais especificamente, não pode ser uma ocasião para divisão entre os católicos. As leituras dialéticas da “Sacrosanctum Concilium”, ou seja a hermenêutica da ruptura em um sentido ou outro, não é o fruto de um espírito de fé. O concílio não queria romper com as formas litúrgicas herdados da tradição, mas sim queria aprofundá-las. A Constituição estabelece que “as novas formas como que surjam a partir das já existentes.” (N.23).
Neste sentido, é necessário que aqueles que celebram conforme o “usus antiquior” devam fazê-lo sem qualquer espírito de oposição e, portanto, dentro do espírito da “Sacrosanctum Concilium”. Da mesma forma, seria errado considerar a forma extraordinária do Rito Romano como derivando de outra teologia que não da liturgia reformada. Seria também desejável que o ato penitencial e o Ofertório da “antiquior usus” fosse inserido como um apêndice na próxima edição do Missal [de Paulo VI], com o objetivo de ressaltar que as duas reformas litúrgicas iluminam uma à outra, na continuidade e sem oposição .
Se vivemos com esse espírito, então a liturgia vai deixar de ser um lugar de rivalidade e críticas, em última análise, para nos permitir participar ativamente em na liturgia “celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo”(n.8).

segunda-feira, 15 de junho de 2015

As Sete Portas do Inferno - Sétima Porta - O Espiritismo

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Sétima Porta do Inferno
O Espiritismo



O espiritismo consiste em pretensas ou verdadeiras comunicações com os espíritos do outro mundo, ou as almas dos defuntos, para descobrir coisas secretas relativas a esta ou à outra vida.
Digo comunicações pretensas, supostas, porque é sabido que grande número de médiuns, isso é, de pessoas de que se servem os espíritos para receberem as respostas dos espíritos ou das almas, os profissionais Do espiritismo, têm sido convencidos de fraude. Noventa por cento pelo menos dos casos de comunicações espíritas são vergonhosas trapaças.
Digo, em segundo lugar, comunicações verdadeiras, porque sábios verdadeiros e conscienciosos têm verificado a verdade de certas comunicações, de sorte que forçoso é admitir que nem tudo é fraude.
Por conseguinte, às vezes há espíritos que se comunicam. A questão é esta: a que espíritos devem ser atribuídas estas comunicações? Em outras palavras: quem é o espírito que se manifesta? Não são almas dos defuntos. O dogma católico admite, para as almas que passaram os umbrais da eternidade, dois estados definitivos e um intermediário, mas passageiro. Ou elas estão no inferno, ou no céu, ou no purgatório. Ora, em qualquer estado destes em que elas se achem, não está na possibilidade delas aparecerem a quem as evoca. As do inferno estão presas pela corrente da justiça divina, que fixou a sua desgraçada sorte para a eternidade e deste horrendo calabouço, de que os demônios são guardas, elas não podem sair, senão em caso muito extraordinário, por especial providência de Deus. As que estão no céu, no purgatório, estão em perfeita conformidade à vontade de Deus, e, portanto, nunca elas se manifestam senão por fins altíssimos, dignos da infinita sabedoria de Deus, como auxiliar com preces e santos sacrifícios essas almas, ou converter algum pecador. A regra geral que Deus tem estabelecido para as almas que passam desta para a outra vida é que: “o espírito vai e não volta.”
Não são as almas que se manifestam. É o demônio. A prova é que na maioria dos casos estas comunicações tendem ao erro e à falsidade, que é o caráter próprio daquele que tem o título “pai da mentira”. Sem dúvida, há às vezes algumas verdades enunciadas, mas é para mais facilmente induzir ao erro. Assim dirão que há purgatório, mas que não há inferno — que fulano está no inferno, mas que a condenação não é eterna. Outras vezes são respostas ambíguas e contraditórias. Para um católico não pode haver dúvida, é o demônio. Acrescentemos o que em mais de uma circunstância se tem dado; e é que se algum dos circunstantes se acha munido de água benta, um crucifixo, uma medalha, o espírito ou fica mudo ou dá respostas incoerentes.
Vejamos, aliás, quais as consequências resultantes do espiritismo, para mais vermos
a intervenção diabólica, porque pelos efeitos melhor se conhece a causa. Uma das consequências que mais avultam é a loucura. É um fato notório. O diretor do Hospício dos Alienados Pedro II, no Rio, declarou, há anos passados, que sessenta e cinco por cento dos alienados eram vítimas do espiritismo.
Que dizer do suicídio? Quem ignora que os tenha havido e só motivados por esta causa? Quantos desgraçados entre estes cegos a quem Satanás leva pelo cabresto até esta última cegueira! Quanto às imoralidades praticadas muitas vezes em certas reuniões espíritas, delas nem convêm falar. Há outras consequências, doutra ordem mais transcendente e é que o espiritismo impele seus adeptos à heresia e ao erro. É principalmente entre os espíritas que se encontram os que negam a divindade de Jesus Cristo, da confissão, da Igreja; os que ridicularizam as práticas religiosas, aprovam o ensino ateu.
Basta! Fica claro e evidente que as pessoas que se entregam a estas práticas cometem   pecado   mortal   não   só   porque desobedecern à Igreja, que as proíbe, mas também porque procuram põe-se em comunicação com o espírito das trevas, o inimigo de
Deus, o que é proibido pela Sagrada Escritura : “Entre ti não se achará... quem pergunte a um espírito divinatório nem aos mortos
.”  (Deut  18, II).
Os espíritas são hereges porque negam verdades reveladas e aderem a erros condenados, renunciando, desta arte, ao título de católicos. Estão fora da Igreja; se não renunciarem a estas práticas não se salvam.
A Oração
Há um inferno, suplícios eternos. É horroroso, mas é certo. A porta do inferno é o pecado mortal. Há também um céu, morada de Deus, mansão dos anjos e santos, uma glória,  uma   felicidade   eternas.   A chave de ouro do céu é a oração. Quereis evitar o inferno, merecer o céu, é absolutamente necessário REZAR...


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As Sete Portas do Inferno - Sexta Porta - O Protestantismo

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Sexta Porta do Inferno
O Protestantismo



O protestantismo é inimigo jurado da nossa Santa Religião. Nega os dogmas mais santos: o Santo Sacrifício da Missa, a Confissão, a Comunhão, a maior parte dos sacramentos, a existência do purgatório, a instituição Divina da Igreja, a autoridade do Papa, a legitimidade do culto dos santos. Neste particular vai até a caluniar aos católicos, dizendo que adoram os santos, as imagens. Não, mil vezes não! Não adoramos os santos. Adoramos só a Deus. Quanto aos santos, nós os honramos, pedimos sua proteção junto de Deus. Honramos as imagens como sendo os retratos dos santos. Que mal haverá nisso? Não podemos honrar o retrato de um pai, de uma mãe, de um benfeitor, colocá-lo em nossa sala, no lugar de honra? Se Deus, outrora, proibiu aos judeus que tivessem imagens, é porque os judeus habitavam no meio de idólatras e estavam expostos a cair na idolatria. Foi uma medida disciplinar e passageira. Aliás, o mesmo Deus deu ordem a Moisés que adornasse a arca com imagens de anjos. Se os protestantes não têm outra coisa que nos exprobrar, calem-se; esta acusação cobre-os de ridículo.
É inegável a existência do perigo protestante no Brasil.
Não se deve, porém, temer exageradamente o protestantismo porque ele tem contra si a promessa feita por Cristo à sua Igreja e porque de sua natureza tende a se desagregar, dividir e multiplicar-se. Todas as tentativas de união serão sempre uma paródia da verdadeira união de fé. Ademais o Brasil nasceu, cresceu e vive ainda sob o bafejo santo da Igreja Católica e não quer ser ingrato às bênçãos celestes, simbolizadas pela constelação bendita do Cruzeiro do Sul. Não se deve, portanto, exagerar o perigo protestante.
Mas, doutra parte, não deve ser desprezado ou descurado.
A fé, na verdade, foi prometida à Igreja e não às nações; estas, como os indivíduos, a podem perder; e não padece dúvida que o protestantismo é um sério perigo que poderá ser grave se não se empregarem os remédios aptos e convenientes.
Não se devem desprezar os protestantes, porque são nossos irmãos transviados e cegos. Nem é tática bélica desprezar o inimigo, ainda que aparente fraquezas.
Se não se deve exagerar nem diminuir o perigo, é preciso considerá-lo em seu justo limite.
Daí a necessidade de um estudo leal e ponderado sobre as forças e elementos do protestantismo no Brasil. Quanto maior for o estudo, tanto melhor será o combate.
Devemos combater os protestantes:
Com grande caridade, muita paciência e ardente zelo pela sua conversão; com constante e sólida instrução, do povo nas verdades reveladas; com a prática das virtudes cristãs e com a frequência dos sacramentos; advertindo os fiéis dos enganos; dando bom exemplo; com o sacrifício e orações fervorosas para que todos sejam uma só coisa (Jo 17, 22).
O protestantismo foi fundado por Lutero. Quem era Lutero? Um frade que, depois de passar muitos anos no convento, deixou a vida religiosa, deixou seu hábito e... casou. Com quem? Com uma freira, chamada Catarina, que ele mesmo tirou do convento. Lutero viveu e morreu na crápula, na orgia, no escândalo. Julgai se Deus pode suscitar semelhante apóstolo para reformar a Igreja ou fundar uma nova religião.
Não discutamos com protestantes, não vamos ao seu culto, nem por curiosidade. Não leiamos suas bíblias, seus folhetos. É pecado mortal ter consigo uma bíblia protestante. Tudo isso expõe nossa fé a naufragar.



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As Portas do Inferno - Quinta Porta - A Má Educação dos Filhos

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Quinta Porta do Inferno
A Má Educação dos Filhos


Quantos pais se perdem e perdem a seus filhos porque não os educam no temor e
amor de Deus, não cumprindo os cinco deveres principais que lhes impõe a paternidade, o amor, a correção, a instrução, a vigilância e o bom exemplo.
Má pais que não amam os filhos como devem amá-los. Certos homens não merecem o belo título de pais. Desperdiçam no jogo, na bebida, na devassidão o dinheiro que ganham, deixando faltar aos filhos o estrito necessário. Pais monstruosos, piores que os irracionais, que sabem passar fome para dar de comer a seus filhos. Há mães que amam aos filhos, mas só a parte material, o corpo. Quanto à alma, pouco ou nada se ocupam dela. Adiam o batismo semanas e meses, deixando o filho entregue a Satanás e em perigo de morrer pagão. Quantas almas perdidas e quantas outras estragadas para sempre. Quanto mais Satanás se demora no coração do filho, mais o estraga. Toda a preocupação, todos os cuidados para com o corpo, até o luxo, até as modas mais indecentes, e quase nada para a alma.
Que será daquela filha a quem a mãe procura inspirar só vaidade, a quem fala só de beleza, a quem enfeita como uma divindade? Será uma moça vaidosa, orgulhosa. Ai do moço que a tomar por esposa, porque será uma esposa leviana, exigente, cuja paixão do luxo nada poderá satisfazer. Será daqui a pouco a desavença, a suspeita, a briga, o abandono, a ruína do lar.
Quantos pais, quantas mães mormente perdem a si mesmos porque não cumprem o dever da correção. O homem nasce inclinado ao vício, diz a Escritura. No coração da criança madrugam os maus instintos. Bem cedo é preciso reprimi-los, corrigir os filhos, dai a pouco será tarde, impossível.
Como corrigir? A força de gritos e descomposturas? Isso só serve para ensinar tudo quanto há de palavras feias. A força de pancadas? Isso avilta e embrutece. Em primeiro lugar é preciso avisar: — “Meu filho, não faças isso, não andes em tal companhia, não convém, não pode ser,  não consinto.” — Às vezes este aviso será suficiente. Em caso de reincidência na mesma falta, é necessário repreender energicamente e ameaçar e, enfim, no caso de nova reincidência, castigar severamente.
Até quando os pais têm obrigação de corrigir os filhos? Não se esqueçam que, enquanto filhos, não há grandes, nem velhos, não há filhos de barba branca. O filho, enquanto tiver filho, sempre será pai, e ai do pai que não avisa, repreende e corrige seu filho, e ai do filho que não atende às justas recomendações de seu pai.
Cedo também deve começar a instrução, porque tudo depende do começo, tudo depende pois, principalmente, da mãe. Feliz, mil vezes feliz quem teve uma mãe cristã e piedosa. Tal a mãe de S. Luís, rei da França. Tendo nos braços seu filhinho, dizia: “Meu filho, eu te amo muito, mas tu tens no céu um Pai, uma Mãe que te amam ainda mais; cuidado, não faças nada que possa ofendê-los, não cometas pecado. Antes quisera ver-te agora mesmo morrer em meus braços, que ver-te mais tarde, rei da França, cometer um só pecado mortal.” Mãe, o coração dessa criança, vosso filho, é um papel branco em que podeis escrever o que quiserdes. Gravai nele ódio ao pecado, amor a Deus, devoção a Maria Santíssima.
Ensinai e mandai ensinar-lhe o catecismo. É uma obrigação gravíssima. A mãe que não manda seu filho ao catecismo, onde é possível, é indigna de absolvição. Meninos e meninas de dez, doze anos, moços e moças que nunca apreenderam uma palavra de catecismo, nada sabem de religião e de suas obrigações, e por isso não se confessam, não comungam, vivem no pecado, é o que encontramos todos os dias. Os culpados são os pais. Quantas moças põem o pé no inferno no dia em que casam, porque assumem uma obrigação que são incapazes de cumprir, ensinar aos filhos a amarem e servirem a Deus. Que responsabilidade e como poderão salvar-se? Perdem a si e a seus filhos.
Mandai vossos filhos à escola, para que aprendam pelo menos a ler e escrever. Depois do pecado a coisa mais triste e funesta é a ignorância. Mas, cuidado! Vede bem que escola, que colégio, que mestres. Há escolas e colégios sem religião. Dali sairão vossos filhos sem fé e sem costumes. Não faltam as escolas e os colégios católicos. Vigilância neste ponto.
Vigilância em todos os sentidos. O maior bem que os pais possam deixar a seus filhos não são muitas riquezas, terras, dinheiro, mas a inocência e os bons costumes. Por isso seu grande empenho deve ser conservar-lhes este tesouro. Tarefa difícil em um mundo em que tudo é escândalo. Só uma grande vigilância. Os pais devem trazer os filhos presos debaixo de seus olhos. Sem esta sentinela de vista não escapam à corrupção. Vigilância, pais e mães, que vossos filhos não vejam nunca nada, nem em casa nem fora de casa, nem de dia nem de noite, nada capaz de ofender a inocência. Mas quantos pais, diz um santo, têm mais cuidado com seus animais, suas criações, que com seus filhos! Quantos pais deixam seus filhos andarem aonde e com quem querem, quantas mães deixam meninos e meninas brincarem longe de seus olhos. Quantas crianças saem de casa inocentes e voltam culpados; quantos moços e moças acham sua perdição em noites de festas, de volta por estradas escuras e desertas! Quantos desastres! Pais e mães, onde andam vossos filhos e filhas, que casa, que pessoas, que divertimentos frequentam? Examinai vossa consciência, condenai-vos, antes que Deus a examine e vos condene.
Se é um grande pecado dos pais não afastarem os filhos do pecado, é um crime enorme levá-los ao pecado pelo mau exemplo. Tal pai, tal filho; tal mãe, tal filha. Filho de peixe sabe nadar, diz o adágio. Nada mais eficazmente funesto que o mau exemplo dos pais. Os pais não rezam, o pai não se confessa, a mãe não vai à Missa aos domingos, os filhos hão de fatalmente imitar seu procedimento. Por que rezar? — disse um dia uma menina à sua professora — eu nunca vejo papai nem mamãe rezarem. Que dizer dos pais que oferecem aos filhos o espetáculo positivo do vício e do pecado, pais que se embriagam, brigam, blasfemam; certas mães cuja vida é o pecado... os filhos o sabem e se envergonham, o que não os impedirá de, mais tarde, trilharem o mesmo caminho.
Ai do homem, disse Jesus Cristo, que dá escândalo, isso é, dá mau exemplo”; por conseguinte, mil vezes ai dos pais que escandalizam seus filhos: “seria melhor lhes
amarrar ao pescoço uma pedra e serem lançados ao mar
.”
Maldito seja meu pai, disse um condenado à morte, à hora de subir ao cadafalso, a ele é que devo a minha desgraça; nunca me ensinou meus deveres para com Deus e os homens, deixou-me frequentar más companhias, deu-me em tudo o mau exemplo.” Faz horror pensar que no inferno muitos filhos amaldiçoam aos pais e muitos pais aos filhos, porque foram uns para outros causadores de sua condenação.
Pais e mães, amai a vossos filhos com amor cristão, educai-os no amor e temor de Deus, afastai-os do mal e dai-lhes em tudo o bom exemplo, e vossos filhos vos darão gosto, neste mundo serão vossa consolação e no outro vossa coroa.
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As Sete Portas do Inferno - Quarta Porta - A Embriaguez

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Quarta Porta do Inferno
A Embriaguez




Não erreis: os bêbados não herdarão o reino de Deus”, diz S. Paulo. A embriaguez é um dos vícios mais vergonhosos e funestos. O seu efeito imediato é privar o homem do uso da razão e até de seus membros. Este pecado ultraja a Deus porque mancha e apaga no homem a imagem de Deus. Pela sua alma o homem é a imagem de Deus. Como Deus, a alma conhece, ama e quer. Vede agora o escravo da bebida. Onde está a imagem de Deus? O embriagado é incapaz de formar uma ideia. Semelhante ao animal, não é capaz de exprimir seu pensamento. Onde estão seus sentimentos? Só tem instinto de bruto. Onde está sua liberdade? Faz o que não quer e não faz o que quer. Chega a ponto de não poder ficar de pé, de não poder dirigir seus passos, de cair. Um dia, um bêbado caiu numa sarjeta. Chega um cão, olha, fareja-o festejando-o com a cauda. O cachorro parecia satisfeito por encontrar um colega. Mas depois o cachorro foi-se embora, e o bêbado ficou deitado na lama, porque não podia arredar-se do lugar. Deus fez o homem grande, diz a Escritura, mas, pelo vício, o homem nivelou-se ao bruto.
O alcoólico é inimigo de sua alma, porque calca aos pés todos os mandamentos da lei de Deus. Amai a Deus sobre todas as coisas, diz o primeiro mandamento. O escravo da embriaguez é do número daqueles que S. Paulo estigmatiza, quando diz: “Seu ventre é seu Deus”. O bêbado blasfema frequentemente, roga pragas, jura falso, profana o dia do Senhor, é mau filho, mau pai, mau esposo, briga, fere, às vezes mata. Como é raro dois embriagados separarem-se sem trocar uns murros e se estragar a cara.
Quanto ao sexto mandamento, são obscenidades de toda espécie, pensamentos, desejos, palavras, olhares, ações, brutalidades que os próprios irracionais ignoram. No vinho está a luxúria, diz o Espírito Santo.
O alcoólico é inimigo de seu corpo. O álcool é um veneno, acaba sempre por estragar e matar. Exerce um efeito funesto sobre o estômago, o coração, os rins. Os médicos contam até vinte doenças quase todas mortais, causadas pelo álcool. De 120.000 pessoas que morrem cada dia, 20.000 morrem diretamente pelos excessos alcoólicos.
O alcoólico é inimigo de sua família. Uma boa moça regozijava-se na doce esperança de em breve achar-se ao lado de um moço, o preferido do seu coração, para levar com ele uma vida cheia de alegria e de felicidade. Por ele deixou pai e mãe, a ele dá sua mocidade, seu coração, suas forças, seu trabalho, sua vida. E o moço lhe promete torná-la feliz, promete-o, jura-o, até, ao pé do altar. E, agora, escravo da embriaguez chega em casa bêbado, envergonha sua esposa, a contrista, a descompõe, a maltrata, e, às vezes, deixa-lhe faltar o estrito necessário. Que ingratidão, que traição!
Este pecado levanta contra ele um brado de maldição, arrancado de um coração esmagado. O eco desta maldição subirá até ao trono de Deus, para bradar vingança contra o violador do amor conjugal.
Mau esposo, talvez pai pior ainda. Filhos idiotas, raquíticos, epilépticos, eis, geralmente, a descendência do alcoólico. E estas pobres criaturas geralmente nascem predispostas ao vício. O fruto não cai longe da árvore, diziam os antigos. Que educação dará aliás tal pai a seus filhos? Que ouvem os filhos? Palavras obscenas, conversas ímpias. Que veem? brigas, escândalos. Pai miserável, que responderás no dia do juízo, quando Deus te perguntar qual o exemplo que deste a teus filhos?
Renunciai ao vício, cristãos, e gozareis as satisfações da virtude e da abundância, os encantos da vida de família, tão puros e tão santos. Que alegria ver-se objeto da afeição de uma esposa, ter filhos sadios e bem educados!
Fugi, pois, do maldito vício da embriaguez. Rezai, frequentai os sacramentos, afastai-vos da ocasião, principalmente, lembrai-vos da palavra de S. Paulo: “Os bebedores
não entrarão no céu
”.


fonte:http://osegredodorosario.blogspot.com.br/2013/11/as-sete-portas-do-inferno-quarta-porta.html